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Forças armadas: pesquisa avalia confiança e visões sobre militares na política

Priscila Delgado de Carvalho

(INCT-UFMG)

As forças armadas voltaram ao debate político no Brasil nos últimos anos, tendo obtido crescente espaço no governo Bolsonaro, onde militares da ativa ou da reserva ocupam a vice-presidência, ministérios e cargos de confiança em uma gestão que segue sem filiação partidária.


Três temas da pesquisa do INCT em 2020 permitem compor uma leitura sobre o lugar das forças armadas – e dos militares - na conjuntura política: a confiança nessa instituição, as possíveis justificativas para um golpe militar, e a questão sobre se a presença de militares em cargos de primeiro e segundo escalão é positiva para a democracia.


O Brasil tem um histórico de confiança alta nas forças armadas, acima dos 50% (somados quem confia e confia mais ou menos). Esse valor é alto se comparado a outros países latino-americanos – na Argentina, a confiança tende a ficar abaixo dos 40%. Essas cifras indicam que as forças armadas, apesar de afastadas da política desde que saíram com a imagem arranhada no período autoritário, angariam simpatia de boa parte da população.



Em 2020 ocorreu uma dupla alteração nos dados sobre a confiança às Forças Armadas, em comparação aos ano anterior os que “confiam mais ou menos” aumentaram de 26,6% para 33,8%. Repete-se, aqui, uma tendência geral dos dados de 2020 para respostas intermediárias em termos de confiança nas instituições. Aqueles que “confiam muito” já haviam diminuído entre 2018 e 2019 (de 33,9% para 29%) e se mantiveram em 27% - dentro da margem de erro. Da mesma forma, o número de quem “confia pouco” manteve-se praticamente inalterado.


Porém, quem “não confia” diminuiu de 23,5% para 16,1% em 2020. Somadas as respostas de quem “confia muito” e quem “confia mais ou menos” temos 60,8% da população (contra 55% em 2019), que sobrepassam os 36,5% que “confiam pouco” e “não confiam”. É, portanto, importante manter olhar cauteloso sobre a mudança nos dados de confiança nas forças armadas, havendo motivos para pensar em certa estabilidade.


Já os dados sobre condições em que brasileiras e brasileiros aceitariam um golpe militar mostram uma mudança acentuada em comparação aos anos anteriores. No geral, mantem-se tendência de diminuição da aceitação de golpe militar em casos de alta corrupção (queda de aproximadamente 10%) e crime (queda na casa dos 15%) – em caso de desemprego, os dados não mudaram. Esses dados apontam menor propensão ao retorno dos militares ao poder via rupturas e, ao indicarem maior resistência a mudanças de regime, sinalizam tendência de adesão à democracia justamente em um momento no qual um possível retorno dos militares reapareceu, sobretudo em algumas manifestações de rua.


Por fim, 58% dos entrevistados e entrevistadas avaliam que não ajuda a democracia do país a maior presença de militares em cargos de primeiro e segundo escalão. Novamente, as respostas apontam para certa resistência à presença de militares na política.


A opinião positiva sobre a presença de militares no executivo federal varia de acordo com a avaliação do governo Bolsonaro. Cerca de 78% de quem considera o governo ótimo entende que a presença dos militares no governo é positiva para a democracia, e quanto pior as pessoas avaliam o governo, menos elas entendem como positiva a presença de militares na administração pública.


De forma geral, o Brasil de 2020 tem menos abertura para ampliação do espaço das forças armadas na política do que nos anos anteriores - essa pode ser uma das consequências imprevistas da alta exposição pública dos militares e de seu retorno a cargos-chaves do governo federal, algo que não se via no país há algumas décadas.


A pesquisa

A pesquisa A Cara da Democracia no Brasil realizou mil entrevistas por telefone entre os dias 30/05/2020 e 05/06/2020, com margem de erro de 3.1%. O intervalo de confiança de 95%. A pesquisa é parte de um conjunto de investigações sobre representação, participação e opinião pública no âmbito do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação (INCT). O survey de 2020 foi precedido por outros realizados em 2018 e 2019.

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